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segunda-feira, julho 28, 2008

Peter Gast

Caetano Veloso


Sou um homem comum

Qualquer um

Enganando entre a dor e o prazer

Hei de viver e morrer

Como um homem comum

Mas o meu coração de poeta

Projeta-me em tal solidão

Que às vezes assisto

A guerras e festas imensas

Sei voar e tenho as fibras tensas

E sou um

Ninguém é comum

E eu sou ninguém

No meio de tanta gente

De repente vem

Mesmo eu no meu automóvel

No trânsito vem

O profundo silêncio

Da música límpida de Peter Gast

Escuto a música silenciosa de Peter Gast

Peter Gast

O hóspede do profeta sem morada

O menino bonito Peter Gast

Rosa do crepúsculo de Veneza

Mesmo aqui no samba-canção

Do meu rock'n'roll

Escuto a música silenciosa de Peter Gast

Sou um homem comum

domingo, julho 27, 2008

tormenta


Cláudia Efe




Vai que cai uma lágrima

Um grito

Um berro

Vai que fica calado

E isto é estrondo


Foto: arquivo Google, s/ref.autor.

segunda-feira, julho 21, 2008

domingo, julho 20, 2008

MOVIOLA, UMA REVISTA SUPERBACANA

Moviola é uma revista online (ou eletrônica, tanto faz).
Na praia deles, Teatro, Cinema e outros barulhos.
Entre os editores, a jornalista Elis Galvão.

Vale ler, ouvir, dançar:
http://www.revistamoviola.com/

4 x 4

quatro.jpg

Naomi Conte

Gotejava sobre o ar condicionado do lado de fora da janela, a cortina de um verde puído, Ana limpava as unhas esparramada entre travesseiros sobre a cama de solteiro. Chovia há seis horas, fazia quarenta graus dentro do quarto e no rádio tocava “o meu destino é ser star…”. Se tivesse dinheiro compraria um jipe, um quatro por quatro, chegaria na loja calçando chinelos de dedo, com o dinheiro em cash uma vez na vida. Seria mal atendida por dois ou três vendedores, mascaria chicletes nesse dia, entraria na loja como quem tem um cartão de crédito, com esse ar de felicidade dos comerciais de televisão. Ignoraria os dois ou três atendentes mal educados e invejosos, faria um teste drive com um jipe de cabine aberta e outro, japonês, de cabine fechada, compacto. No balcão, em frente ao vendedor assustado, retiraria da bolsa aberta maços de notas. E com as mãos abarrotadas faria parte da sociedade como uma cidadã respeitável. Saiu à noite durante um mês para concretizar seu objetivo: o jipe. Seu amigo policial J. trataria pessoalmente dos detalhes evitando inconvenientes, um acerto de cinco por cento no final. Impossível, tinha seus brios, gritava Ana com J., um casal de evangélicos era um exagero e soubera disso apenas dois meses depois do contrato assinado. Ele pastor, ela pastora, dinheiro não seria um problema nessa família, mas Ana matara os homens de deus aos dezessete anos com um aborto.

Frustrada a primeira tentativa, Ana foi relembrada por J. e pelas propagandas de acessórios que cor metálica e air bag são ítens opcionais e decidiu-se por um leilão. Foram muitos os interessados na mulher de boa saúde. Seguiu-se uma ficha a ser preenchida por possíveis compradores garantindo um mínimo de idoneidade. Enfim, definiu-se pelo casal na faixa dos quarenta, vegetarianos e ecologistas, trabalhavam numa grande empresa de computadores americana. Conheciam o Brasil de uma breve viagem ao Rio de Janeiro, haviam inclusive feito uma visita guiada às favelas. Via-se logo que tinham preocupações sociais, elocubrava Ana acariciando a barriga. Haviam lido Baumann e gostado muito. Planejavam comprar à prazo um terreno numa ilha artificial no Golfo Pérsico para ajudar a preservar o meio ambiente. Ela, operada de miomas, não podia mais engravidar. O contrato fechado por cinqüenta mil dólares incluía bancos de couro.

Seis meses depois, na sala da concessionária, Ana trocou seu bebê por um jipe tração nas quatro.



Você encontra Naomi Conte no http://www.contosinterditos.blogspot.com/

Muitos aplausos para Dercy Gonçalves!

foto: arquivo Google, s/ref.autor


por Cláudia Ferrari





Decretaram luto oficial de três dias pela morte de Dercy Gonçalves, ocorrida ontem, sábado, dia 19 de julho de 2008, na cidade do Rio de Janeiro.

Acho que Dercy merece um carnaval e outras grandes festas populares, daquelas que uma semana nos pareça pouco.


Ter dignidade, honestidade, respeito e coragem de se ser o que se é, fora ou dentro dos palcos, é para poucos. É para transgressores raros, como ela é e para sempre o será. As palavras de Dercy sempre caíram como bombas, ela própria, um campo minado: catucou, leva; ficou parado, leva um soco no estômago também. Longe dela os comerciais de margarina. Sempre sacudiu o plantão da moral e dos bons modos e outras ilhas da hipocrisia.

Aplausos para a sua irreverência que, entre outras, me faz crer que a vida é possível de valores humanos, daqueles que conjugam inteligência e generosidade. Um beijo para a sua alegria e outras admirações, que ao seguir a sua viagem você possa continuar a iluminar as nossas.


sexta-feira, julho 18, 2008

A verdadeira arte de viajar


Mário Quintana



A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa,
Como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo.\
Não importa que os compromissos, as obrigações, estejam ali...
Chegamos de muito longe, de alma aberta e o coração cantando!

(Quintana in “A cor do invisível”)

Foto: arquivo Google, s/ref.autor.
Osho





apenas os leões andam sós.














Foto: arquivo Google, s/ref.autor.

terça-feira, julho 15, 2008

SANDRA GREGO NO LEBLON



MAIS UM SHOW DA SANDRA GREGO PRA TODO MUNDO CURTIR!

Envie um email para sandragrego@sandragrego.com.br , participe da lista amiga e pague somente R$ 10,00

SHOW dia 22 de julho, terça-feira, a partir das 8 da noite, na MELT.

segunda-feira, julho 14, 2008


Cláudia Efe





Para a moça que se sente só
diante da enormidade
e outras coisas que se inventam
Para a moça de todos os santos
e nenhum credo
diante da estrada do destino
antes, o desatino
Para a moça de antes
e de si mesmo
e perante








Desenho: arquivo Google, s/ref.autor




domingo, julho 13, 2008

Fernando Diniz, Mandala







Nathalie Loureiro




Diga-me, ó, Magnífica

Tu que és a trilha inexorável

A palavra escarrada

Última e primeira

Diga-me

Já que o vazio é jorrado

E és infinitude espalhada

Aos pés do visível

Diga-me, ó, Magnífica

Tu que és éter ácido e doce

O tempo-mor

Da minúscula alma

Tu que és a simplicidade

Que afronta a existência

Pois não posso tocar

O divino da semente

Diga-me, ó, Magnífica

Tu que és consciência

Das asas do saber

O odor do som primordial

Tu que estás no novo

E no antigo

Tu que dás nome

Ao inexistente

Diga-me, ó, Magnífica

Quem és tu?

Pois posso apenas tocar

A poeira ornada de ouro

Que meus pés largaram

Até agora num oceano

Vulgarmente chamado

Vida



Jorge Salomão




Eu, fragmento de uma sensibilidade que produz um ritmo.
Eu, que vim ao mundo para participar
dessa missa louca com minha doida dança na derrocada dos valores que torturam a alma humana.
Eu, filho do sol.
Eu, forte, belo, irmão do poente.
Eu, dançando, nesses esparsos-espaços
palcos da vida.


Foto: Alex de Souza

quarta-feira, julho 09, 2008

(por ele)

Foto: arquivo Google, s/ref. autor



Mário Quintana




Os poemas


Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto

alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhoso espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...

segunda-feira, julho 07, 2008

Acho que a briga é outra.


Cláudia Ferrari


G
en
te,
tudo se transforma. Sabemos disso, desde o ventre (alguns, até antes).
Não dá mais para fingir que peneiras nos protegem do sol.
Estou falando dos downloads. Sou contra a pirataria, não compro nada pirata. MESMO (pelo menos, que eu saiba).
Porém, baixar alguma coisa que está disponível na Internet é outro assunto.
Não dá mais para negar as convergências, os diálogos que a tecnologia estabelece. É simples e inevitável.
Direito autoral no Brasil sempre foi um fiasco. Chiquinha Gonzaga, que o diga.

Desde o XIX, a arrecadação é boa para os cofres de alguns, menos para os dos artistas (compositores, autores etc.).

Os que se alimentaram e se alimentam com os "supostos direitos" são as grandes indústrias de discos, de livros... Um vampirismo pouca vezes questionado. E também, algumas entidades que se apropriaram das categorias e que, sinceramente, me engasgam de engodo. Pouco sobrou para os que fornecem a matéria-prima: para uns, glamour; para muitos, álcool, sexo, drogas e sargeta!

Só que isso agora está às claras. As indústrias culturais perderam o seu monopólio. E isso está doendo no bolso (deles!). Mas o artista continua perdendo, como sempre. Isso não é de agora. Isso é injusto, desde sempre. Isso é covarde.

Acho que o momento é propício para uma grande transformação. Se todos os provedores que disponibilizam uma banda larga, os que fabricam um computador, os que criam um software, um pen drive, que seja! Se todos os que produzem e vendem toda essa parafernalha que serve de esteio a internautas como eu. Se toda essa indústria das infovias destinar um percentual da sua arrecadação para o artista, o autor, o escritor, o desenhista, o que criou o que está sendo disponibilizado, e seja isso o quer que seja... Se houver um pouco mais de honestidade, dignidade e ética (e isso só será possível sem os atravessadores profissionais, por favor).

Talvez eu visite Clementina de Jesus lá na sua casa própria, talvez eu veja Rosinha de Valença rodeada de conforto, talvez Cartola me pague uma cerveja e a gente não precise mais botar a vida no prego.



UMA PÉROLA DE TOM ZÉ, 1975.

Uma vida inteira é muito pouco, pra se ouvir esse disco.


sábado, julho 05, 2008

A minha casa


Cláudia Efe


Gosto de saber quem me procura.

Como inspiração ou lampejo e outras coisas esquisitas.

Gosto daqueles que chutam a porta da geladeira

entre outras delicadezas.

Pode trazer música, flor, cerveja, vento, sashimi, sopa ou chuva (meus preferidos).

Mas intimidade tem autonomia, ela própria se estabelece.

Cabe a mim

morrer de amor, de susto ou de vazio.

05.07.2008