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sábado, agosto 26, 2006

Adélia Prado


foto: arquivo google s/referência autor

Uma certa Dona

Cláudia Éfe (letra e música)
Dona das minhas horas
me faz falar com o tempo
me bota cara a cara
vem me desconserta
me desconecta
me atravessa
sol e labirinto
cheio de promessa
e precipício
poema é vício
é ócio
poema é nada
disso
é o nosso santo lixo
é desespero
e milagre
é quase reza
reza, reza, reza
reza
Dona Adélia

quinta-feira, agosto 24, 2006

onomatopéia

Cláudia Éfe

Hei de buscar
a etimologia
da pedra bruta

E me perder
depois
e antes
e através dela

escorrer
entre dedos
e feras

navegar sem rumo
sem nau, sem mar

quarta-feira, agosto 23, 2006

Jorge Salomão


foto: Ricardo Poock

Jorge Salomão


Foto: Sonia Miranda
New York 2006

Jorge Salomão


reprodução
Jorge Salomão em foto publicada na edição da Navilouca
1972

Perfil

Jorge Salomão
acordo para a noite
mítica misteriosa do mundo
existe tanta coisa
em cada coisa
os cinzeiros cheios de baganas
o fogo que se acende
se apaga
nos lábios escrito desejo
certos delírios
como luz
no meio do dia
a casa está limpa
mas parece uma cratera de um vulcão
uma armadilha
onde foi capturada uma rã
estou como um deus
fantasiado e nu
num carrousel a girar
meu tempo
infinitamente longo
as paredes desaparecem a cada passo
alguns fenômenos
harmonias
tensões
nada se sabe
dança-se tudo ao brilho do sol
procuro a mim mesmo
na iluminada janela
do pensar
no esconderijo
lá a natureza ama ficar
tudo é verso
reverso em si
e essas misturas
que sempre tenho que agitar
traçando sozinho caminhos
abrindo portas para o desconhecido
como chama
que se move
percebendo contrários
inquieto
melhor que instalar-se no banal

domingo, agosto 20, 2006

WALLY SALOMÃO

Série Pensadores: “Wally Salomão: as máscaras do trágico”.

Palestra com o professor Flávio Boaventura
(gravada em 14 de dezembro de 2004).

Flávio Boaventura é
Graduado em Filosofia pela PUC Minas;
Mestre em Filosofia pela UNICAMP;
Doutorando em Literatura Brasileira pela PUC Minas;
Poeta, ensaísta;
Professor na Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas.

"Flávio Boaventura fala sobre a formação, a trajetória e companheiros do compositor e poeta baiano Wally Salomão (1943 – 2003). Filho de pai sírio e mãe sertaneja baiana, Wally teve uma formação cultural sincrética e multicultural. Dentre os vários poetas e artistas, com quem ele possuía afinidades, estavam Oswald de Andrade, Gregório de Matos, Hélio Oiticica e Lygia Clark. Wally foi um participante ativo do movimento tropicalista brasileiro, no final da década de 1960. Organizou, junto com o compositor Torquato Neto, a revista pós- tropicalista Navilouca, que contava com a participação de Augusto e Haroldo de Campos, Décio Pignatari, Hélio Oiticica, Ligia Clark, Caetano Veloso, Jorge Salomão, entre outros. Sua carreira de compositor foi marcada pela interpretação de várias de suas letras por artistas como Maria Bethânia, Gal Costa, Paralamas do Sucesso, João Bosco, Caetano Veloso, Lulu Santos, Cazuza e Adriana Calcanhoto.
Nessa videoconferência, Boaventura analisa a obra de Wally Salomão; demonstra como ele destrói os cânones da criação; explica a simbologia nos seus poemas e letras; fala da substituição da dialética pela diferença e o sentido do trágico no trabalho do poeta baiano."


teleconferencia@virtual.pucminas.br.
www.institutoembratel21.org.br/pontocomunidade


Pode? Que país é esse, meu Deus?

Jorge Salomão

Internautas, o mundo globalizado foi totalmente retribalizado através da informação. Basta apertar um sinal e novas aparecem e tudo é possível. Até pode ser que uma bomba exploda. Tudo ficou numa grande urgência, então é preciso ficar forte e atento. Tenho horror a pessoas que saem por aí jogando coisas pelo chão das cidades bem em frente as latas de lixo. Vamos exercer nossa cidadania, nossa liberdade com carinho. Se você cuida bem de si, você cuida bem do seu amor, da sua família, da sua casa, da sua rua, do seu bairro, da sua cidade, do seu estado, do seu país, do mundo etc. e aí tudo melhora. Vamos colaborar, só os cretinos não querem participar de ajudar o mundo a não se afundar mais. Faça amor, não faça guerra. Por exemplo: as nossas estradas estão num estado lamentável. Crateras enormes no asfalto que engolem até um carro e ninguém faz nada. Fica difícil se movimentar de uma cidade para outra, de um estado para outro. O cidadão que paga altos impostos não pode ficar tão acomodado vendo um quadro de deteriorização cada hora se acentuar mais e mais.
Vamos exigir, afinal a cada nova eleição são depositadas enormes esperanças e nada se concretiza. Faça sua parte por um mundo melhor e exija melhorias sociais para todos exercendo sua ampla cidadania. Pois os políticos que estão por aí só ridicularizam a imagem do brasileiro que é em si um dos povos do mundo de mais alto astral no sentido de humanidades em geral...
Entro na Biblioteca Municipal de Jequié reclamando da montanha de móveis que estava em cima da placa que homenageava o meu irmão, o poeta Waly Salomão, ao lado da minha irmã Rylene quando me defronto com o atual diretor de cultura que indignado pergunta se sou “parente” de Waly e me desconhecendo totalmente. Dei meia volta e saí andando: não compactuo com ignorância institucionalizada. Sou uma estrela da cultura brasileira atuando há décadas em varias áreas (literatura, música, jornalismo, agitações etc.). Bem, qualquer dúvida é importante consultar os dicionários eletrônicos. Cultura é atenção com tudo e com todos. UFA!Texto escrito numa noite olhando o céu estrelado de Jequié.


sexta-feira, agosto 18, 2006

Marina Lima

sobre a parceria de Antônio Cícero e Jorge Salomão

"Eles dois não cantam, eles não são cantores [Cicero e Jorge Salomão], então eu queria entender porque que eles ficam tão encantados e sempre em volta de pessoas que cantam. Eu sei que é difícil se afastar de pessoas que cantam, porque eu mesmo sou cantora e não saio de perto de gente que canta... da sereia sai um peixe, do peixe sai um símbolo fálico, a sereia seduz, sabe, tudo isso eu acho esse conto da sereia a coisa mais certa..."

Fragmento de Texto-Poema de Jorge Salomão

Jorge Salomão
Reunir pessoas,
artistas
Para um projeto hoje
É tarefa árdua.
Num mundo cada hora mais áspero,
Duro, sem utopias.
Mas não é impossível.
Tempo de sonhos?
Nem tanto...
Tempo de espalhar sementes,
Espalhar-se. (...)
Arte é assumir riscos?
Vencer desafios?
Clarear o escuro?
Para Hölderlin a essência da beleza
É a identidade na diferença.
Cabeças viajam nos seus universos.
Difícil viver sem sonhar.
Diferentes pontos luminosos se interligam.
Sem muros.

Jorge Salomão
Hotel Mauá Bela Vista / Santa TeresaRio de Janeiro / Brasil

Texto publicado na Revista da 15a. edição do Arte de Portas Abertas / julho de 2005

quinta-feira, agosto 17, 2006

PALAVRA DITA

JORGE SALOMÃO
um agitador cultural, multimídia e transgressor
por Cláudia Ferrari
Natural de Jequié, Bahia, no próximo dia três de novembro, Jorge Salomão completará 58* anos de inquietude, poesia e muita arte. Autor de quatro livros - Mosaical, Olho do tempo, Campo da Amérika e Sonoro - ele ainda tem dois títulos inéditos: Estrada do pensamento e Conversas de mosquitos. Compositor gravado por Cássia Eller, Zizi Possi, Marina Lima, Adriana Calcanhoto, Barão Vermelho e muitos outros nomes da MPB, Jorge prepara o CD Cru tecnológico, pela Biscoito Fino. Desde 1997, trocou a praia do Leblon pelas ladeiras de Santa Teresa.
Mas quem é esse cara?
- Eu adoro falar que sou um malabarista, porque as mentes mais tradicionais querem dar uma conotação acadêmica ao que você faz e eu sou antiacadêmico por natureza. Quando uma pessoa diz "poeta", eu digo que não sou poeta. Eu sou um malabarista. Gosto de brincar com os conceitos, com situações, essa é a minha jogada - define-se.
Jorge Dias Salomão saiu de Jequié para Salvador, indo juntar-se ao irmão Walli Salomão. Estudou Ciências Sociais, Filosofia e Direção, com Luís Carlos Maciel, na Escola de Teatro da Universidade da Bahia. Mas, segundo Jorge, ele encontrou um "Salvador primário, barroco cariado". Na época, também chegaram à capital baiana, os irmãos Caetano e Maria Bethânia e Glauber Rocha, para citar alguns desses expoentes, e todos foram se enturmando, mudando a paisagem.
Jorge abandonou a universidade em 1968 e veio para o Rio de Janeiro, e novamente ao encontro de Walli. Decretava-se no Brasil o AI-5 e os tempos inóspitos traziam malas sempre arrumadas às pressas pelos dois irmãos
- Nós ficávamos a suportar as chicotadas absurdas da ditadura. Morávamos um tempo no Rio, íamos pra São Paulo. Uns três anos nisso. Depois veio o verão de 71, onde provocamos no Rio um verão de grande liberação, com as Dunas do Barato, o Torquato Neto e várias tendências cariocas. Promovemos uma certa revolução estética. Estávamos massacrados pelo Ato 5 e começamos a nos reunir na praia, fazíamos rituais no Pier, falávamos de liberação sexual e nos concentrávamos em experiências no campo da percepção.
Jorge estava dirigindo o Luiz Gonzaga volta pra curtir, a convite de Capinam. O show foi eleito o melhor daquele ano mas Jorge, após o fim da temporada, não conseguiu trabalhar mais no Rio de Janeiro. Então, viajou para São Paulo com o Grupo Oficina e todos foram presos e torturados. O empenho de Walli Salomão conseguiu restituir a liberdade de Jorge. Porém, as atrocidades sofridas durante o período de carceragem, fizeram com que Jorge perdesse a fala e mergulhasse em profunda depressão.
O amor do irmão Walli, o carinho e total apoio dos amigos e a sua inabalável fé em São Jorge, foram, segundo o artista, os alicerces para que ele conseguisse dar a volta por cima. Jorge Salomão recuperou a voz e a alegria e, em 1976, recebeu um convite de Caetano Veloso para criar a luz do seu show no Teatro da Praia. Depois os convites se sucederam: Gil, Gal, Jorge Mautner...
Jorge Salomão juntou dinheiro e em 1977 foi morar em Nova York. Casou-se com Sonia Miranda, mãe do seu único filho, João. Ralou um bocado, esse Jorge. Carregou caixas de tomate, trabalhou em empresas de mudança.
- Eu era meio arquiteto e já ia dando sugestões para os móveis, objetos e fui fazendo muitos amigos. Depois fui trabalhar com vídeo e também estudei designer. Eu acho que a vida é isso, por mais que você esteja triste com as situações, você não pode deixar que o rancor te possua inteiramente, que a amargura te domine. - ensina.
Voltou para o Brasil em 1984, tornando-se amigo de Antônio Cícero que o estimulou a mostrar seus textos e poemas. Foi além. Criou capas de discos, cenários, escreveu para revistas especializadas em música, produção de fotografia e, com Nico Rezende, teve sua primeira experiência como compositor, com a música Noite.
Os irmãos Walli e Jorge Salomão sempre tiveram um olhar aberto para a vida. - Meu pai era sírio, veio com meu avô para o Brasil, fugindo da guerra e meu pai falava vários idiomas. Minha mãe era do sertão bravo e era poetisa e tocava bandolim. Ela hoje, tem 92* anos e é uma figura, sempre falando, discutindo com inteligência. Minha mãe é uma libertária. Meus pais sempre tiveram uma cabeça boa, era tudo tribal. Quem ia trabalhar com a gente já ficava morando e os filhos também e todos éramos criados juntos, e uma educação livre, um olhar livre.
Jorge que chegou a morar em Santa Teresa na década de 70, redescobriu o bairro em 1997 e mudou-se "com mala, cuias e muitas idéias". É ele quem revela: "Santa Teresa é um bairro muito bonito, de uma poética singular. Eu gosto muito das pessoas daqui, eu gosto da simplicidade, eu gosto desse jeito de estar no Rio de uma maneira mais simples. O amanhecer é o que mais gosto em Santa Teresa, a quantidade de pássaros cantando. E eu gosto de gente. Sem gente a gente não existe. Eu gosto de estar misturado, ser afetuoso, libertário, espalhar alegria e revolução. estamos num caos social e a gente tem que trabalhar os valores de afetividade e felicidade para o mundo. A miséria social está crescendo muito, no mundo inteiro. Tem que acontecer transformações. A miséria é estúpida. O nosso pensamento tem força e não estamos sozinhos.
* Entrevista concedida em outubro de 2004.
Todo carinho e admiração, à memória da Sra. Elizabeth Salomão, mãe de Jorge Salomão.

Por nós (letra e música Cláudia F.)


Vou me aventurar
e ler
as tuas páginas
ou quem sabe
até fazer
uma canção de amor
derramar por aí
notas e lágrimas
e beber do teu sexo
tua voz e tua dor.
Tenho tantos planos
tantos lugares
todas as esquinas
toda solidão.
Eu sei,
rasgo a máscara
deixo a fantasia e viro
o jogo
do meu coração
E o tempo
negro como um blues
será por nós.

sexta-feira, agosto 11, 2006

PALAVRA DITA

para OS milhares de leitores que diariamente me assediam com inúmeros pedidos de todas as ordens, resolvi publicar algumas das minhas entrevistas. (risos)
Durante dois anos consecutivos, trabalhei no jornal Capital Cultural e escrevi, entre outras, a "Santas Figuras", uma coluna com admiráveis moradores do bairro de Santa Teresa.
Jorge Salomão, tia Zilda, seu Gomes, Getúlio, Tomás Improta, Aloísio Neves, entre outros, foram descontruindo a "Santas Figuras". Era maior. Eram eles, um inteiro Rio de Janeiro.
Aí, pensei um título novo: "Inteiros na cidade partida". Não deu. Era pouco pros caras todos, pro que falavam, da forma que falavam. Dessa palavra que está no mundo. Desse princípio que nos permeia pelos meios, até o fim.

Enfim, fiquei com a PALAVRA DITA.
em breve, com vocês, o intraduzível JORGE SALOMÃO.

PALAVRA DITA
em agosto,
JORGE SALOMÃO